quinta-feira, 7 de setembro de 2006

Não se pode mandá-lo para o Parlamento Europeu?


A história da esquerda e da direita é, já se sabe, um pouco a história da transferência de ideias entre um campo e outro. A ideia de Nação, a defesa do centralismo de Estado e do colonialismo, e até a simpatia pelo Estado de Israel, nasceram à esquerda e foram passando progressivamente para a direita. Mesmo assim, confesso, não estava preparado para o tipo de argumentação que Fernando Rosas utilizou contra a decisão de Portugal participar na Força de Interposição das Nações Unidas no Líbano. A doutrina do deputado que representa o Bloco de Esquerda nas comissões parlamentares de Defesa e Negócios Estrangeiros da Assembleia da República está algures entre o «orgulhosamente sós» do doutor Salazar, de Santa Comba Dão, e o «já cá temos problemas que cheguem, eles que se entendam» do senhor Silva, da Rádiotaxis. De acordo com Fernando Rosas, a decisão do Estado português revela que «Portugal não tem uma política externa autónoma», sendo o «esforço financeiro que os portugueses vão suportar com o envio de militares para o Líbano desproporcionado» (Lusa, 30 de Agosto). Aparentemente, para Rosas, só a missão em Timor se justifica. É o regresso em força do «Portugal do Minho a Timor», vindo de onde menos se esperava. Felizmente, como diria o poeta, «há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não». Não sei se é por estar no Parlamento Europeu, mas a verdade é que hoje, no Público, Miguel Portas põe a questão em termos bastante mais adequados a uma esquerda que se diz «moderna» e «europeia». Lembrando que o BE é «um partido plural e diverso», o eurodeputado «pesou os aspectos positivos e negativos» da participação portuguesa, tendo concluído que a mesma «é necessária» e que a missão estabelecida pela ONU para o Líbano «é a apropriada»: «não sendo a UNIFIL a solução para os problemas, pode ser parte integrante dessa solução». Mais: ao contrário do que resulta das afirmações de Rosas, Miguel Portas reconhece que «não é possível dizer que Portugal nunca se deve envolver» em forças multinacionais. É uma pena o Bloco não poder praticar a rotatividade de deputados no Parlamento Europeu.