Visão e método
Foi longa a minha ausência no Canhoto. E será lento o regresso neste reinício turbulento de ano lectivo marcado pelas muitas mudanças de Bolonha no ensino superior. Turbulento e com desencantos vários à mistura.
1. As turbulências associadas a Bolonha não deixarão de ser aproveitadas por quem se opõe à reforma do ensino superior. E se em alguns casos essas turbulências eram inevitáveis, pois ainda está para ser inventada a mudança sem desorganização, noutros resultam de procedimentos evitáveis do ministro do Ensino Superior — que corre o risco de por questões de método fragilizar a visão da reforma por muitos partilhada.
2. De facto, era evitável prolongar a aprovação e publicação das normas legais sobre a reforma até à véspera do prazo para a sua concretização (e não utilizo a palavra “véspera” em termos metafóricos). Como era evitável mudar as regras do jogo no último minuto dos descontos do tempo do prolongamento, como se fez com o despacho sobre as vagas para o ano lectivo de 2006-2007 (publicado em finais de Junho). Ou fazer papel de valente perante as corporações profissionais para depois recuar perante todas as que perceberam que bastava bater o pé com insistência — e aceitar todos os mestrados integrados que eram inicialmente rejeitados.
3. Em todos estes procedimentos menos louváveis dois traços são claros: o desrespeito por pessoas e instituições no plano formal e a falta de coragem para enfrentar problemas concretos com protagonistas identificáveis, trocada pela promulgação de normativos gerais que tanto matam as ervas daninhas como liquidam as iniciativas inovadoras e sustentadas. Assim se apaziguando adversários mas assim se perdendo aliados pelo caminho. E assim se trocando a política pela burocracia não na administração da coisa pública (onde sendo necessária é atropelada) mas na fundamentação da tomada de decisão ministerial.
Para desencanto já chega.