Talvez ensinando-lhe o significado de ser justo
Como convencer um filho, que vai amealhando dinheiro, que é justo que sejam os seus avós a utilizá-lo, mesmo que um dia ele possa fazer o mesmo aos seus netos?
Explicando-lhe quem o alimentou, vestiu e protegeu. Dizendo-lhe quem ficou noites sem dormir quando tinha febres altas. Dizendo-lhe de que se privou para lhe comprar material escolar, pagar as propinas ou a festa de anos, para não falar naquela prenda de Natal que nunca esqueceu. Fazendo-lhe notar que começou a perceber o que é a poupança com a educação que recebeu quanto ao modo como devia gerir a mesada. Contando-lhe como ficou com a vida em pantanas para assistir às urgências da sua crise final da adolescência. Dando-lhe conta de quem pagou a entrada para o carro com que começou a saír à noite e da ansiedade em que ficava, apesar de querer confiar no seu sentido de responsabilidade, quando chegava a casa só na manhã seguinte. Lembrando-lhe que teve tudo o que o avô teve muito mais cedo que o avô e ainda que teve muitissimas coisas que o que o avô nunca teve. Enfim, explicando-lhe que é apenas um elo numa cadeia de gerações e não o centro do mundo, que começou antes dele e continuará depois do seu desparecimento.
Evidentemente, que para tudo isto é preciso invocar a entreajuda e a solidariedade, coisas que certos filhos, a maior parte dos quais - não é nada de pessoal com o autor da pergunta - continua a viver em casa dos pais até aos trinta anos ou a ter subsídios familiares muito pela vida adulta adentro e diz que poupa o seu dinheiro nunca perceberá, quando posto numa perspectiva diferente daquela em que é o centro do mundo.
E, depois, quem disse que financiar a segurança social é só garantir segurança individual e não será também, pelo menos, contribuir para o bem-estar colectivo? Evidentemente, o tal filho achará esse tal colectivo uma abstracção incómoda, afinal só ele e o seu ciclo individual de vida conta na equação proposta. Mas poderá o seu bem-estar ser assegurado se o colectivo vive à beira da miséria? É provável que não e nem é preciso pensar no terror de um crash bolsista.
Talvez seja mais fácil ainda. Volte à pergunta e ensine ao filho o que significa ser justo. Ele perceberá sózinho o resto.