terça-feira, 24 de outubro de 2006

Uma equivalência política que incomoda

Vejo cada vez mais frequentemente, no vocabulário político, usar as expressões sindicatos e corporações, estratégias sindicais e interesses corporativos como sinónimos.
Por vezes a assimilação dos termos pode resultar da ignorância. Há casos em que é evidente o efeito da apropriação da forma sindical por organismos profissionais que só subsidiariamente visam objectivos sindicais. Poderá haver quem pense no neocorporativismo quando fala do assunto, apesar de Portugal não ser - infelizmente, aliás - país de grandes e estáveis pactos sociais.
Mas o que incomoda nessa equivalência é, simultaneamente, o desprezo que ela significa pelo papel dos sindicatos em democracia e a passividade com que os próprios recebem a atribuição de um papel que deviam sentir como um estigma.
Será que as estratégias sindicais actuais em Portugal são incapazes de ser elementos inovadores numa agenda de modernização social inevitável e se confinam à defesa conservadora do que existe? Se assim fôr, a equivalência errónea da sua estratégia com o corporativismo é apenas um erro conceptual, pior é que os próprios sindicatos assim se condenam à sua irrelevância futura.
Como acho que os sindicatos também são pilares da democracia, gostava mesmo era de ver, por exemplo na administração pública, ofensivas sindicais e raciocínios que abrissem novos caminhos como aqueles a que assistimos recorrentemente na Autoeuropa. Mas será só por acaso que aí existe na prática um modelo de representação de interesses dos trabalhadores completamente diferente do que está generalizado entre nós?
De facto, o sindicalismo eficaz pede muito esforço e muita imaginação, quer aos trabalhadores quer aos empregadores.