terça-feira, 21 de novembro de 2006

Escolhas

1. Dizem os jornais que a Festa da Música acabou. É pena. A Festa constituía um dos poucos eventos culturais visando alguma massificação e renovação dos públicos da música clássica. E, por isso, merecia ser apoiada pelo Estado.

2. Em minha opinião, o Estado deve financiar sobretudo as iniciativas de democratização dos consumos culturais, o que só será conseguido com preços muito abaixo do custo dessas mesmas iniciativas. Neste óptica, a pior forma de gerir os subsídios culturais será dispersar financiamentos, mantendo elevado o preço de acesso a cada evento – e, portanto, não garantindo o objectivo de democratização atrás referido. Ou seja, é preciso fazer escolhas.

3. Não é por isso suficiente o argumento sobre o peso excessivo do orçamento da Festa da Música no orçamento total da programação do CCB. Excessivo em relação a quê? O número de dias não constitui critério suficiente.

4. Mas, sobretudo, não me satisfaz que a Festa tenha fechado porque não foram feitas outras escolhas, mantendo-se, por exemplo, a subsidiação do S. Carlos. Como, mesmo assim, os preços da ópera estão aqui longe de serem atractivos para novos públicos mais amplos, o resultado é a persistente elitização da frequência deste espaço. Elitização em que se combinam, aliás, práticas de consumo musical com práticas de distinção social. Em resumo, está o Estado a subsidiar quem menos precisa e tanto o encontro social como o consumo cultural.

5. Fechar a Festa em vez de praticar no S. Carlos uma política de preços reais, não subsidiados, acaba por ser uma escolha. Mas é uma escolha que não partilho.

6. Há dias assim, em que me irrito em demasia com acontecimentos que talvez não o mereçam e acabo com resmungos de outros tempos, como “os tios que paguem o social…”.