quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Tempos Superficiais


Richard Sennett, divulgado em Portugal sobretudo pelo seu livro de 1998, A Corrosão do Carácter (editado entre nós pela Terramar em 2001, com prefácio de Carlos Fortuna), é um dos críticos do novo capitalismo e traz ao debate recorrentemente um tema que, a meu ver, é fundamental na demonstração da sua difícil sustentabilidade social de longo prazo: o da contradição entre a natureza das relações sociais necessárias a uma vida pessoal e familiar equilibrada e a intensidade e natureza dos processos de trabalho mobilizados mesmo pelos sectores mais dinâmicos e "modernos" da economia. Num livro ainda não traduzido, de 2003, abordou a distribuição do respeito (um bem que, sendo gratuito, não há razão económica para ser escasso).
Em entrevista ao magazine Sciences Humaines (uma revista de divulgação de ciências sociais que há muito tempo que penso que poderia ter uma edição portuguesa), publicada no nº 176, de Novembro de 2006, trata de novo o tema da contradição entre a persistência necessária à formação do carácter e à responsabilidade em sociedade e a superficialidade cultivada pelo capitalismo flexível. O excerto é longo mas merece, acho, alguma reflexão:

Les salariés que se conçoivent comme des artisans, qui entendent posséder une connaissance en profondeur, tendent à souffrir une discrimination dans les entreprises flexibles. Ce que j'ai pu observer lors de mes enquêtes dans le secteur informatique m'a soufflé: les salariés detenteurs de hautes qualifications et d'une longue experience sont considerés comme contre-productifs. Un salarié de Microsoft m'a confié qu'il n'était pas question d'aller trop loin dans l'amélioration d'un logiciel, le marché evoluant trop
rapidement.
Tout ceci n'est pas nécessairement un mal. Les salariés en viennent à aprendre beaucoup de choses différentes, sont stymulés par le changement. Cependant, j'ai pu constater que cette forme de savoir devient très insatisfaisante lorsque les salariés atteignent l'âge de 40 ans. L'un des angles morts de la culture du nouveau capitalisme concerne le cycle de vie: cette culture convient à des gens jeunes, non mariés, sans enfants, encore en train d'expérimenter. Or tous ces salariés sont appelés à devenir des gens mûrs ayant des obligations à long terme: ils font des enfants, contractent des crédits immobiliers. A ce moment de leur vie, cet ethos de la superficialité doit céder place à un attachement plus profond avec le monde.(...)
Parvenu à une certaine étape de la vie , la nécéssité de toujours recommencer à zéro n'est pas quelque chose d'acceptable ni de faisable. D'autant plus que les institutions flexibles manifestent souvent peu d'intêret pour le développement de nouvelles compétences parmi leurs salariés. Il leur apparaît plus rentable de recruter un jeune doté des savoir-faire recherchés que de reformer un salarié plus agê...


O ethos da superficialidade que o novo capitalismo propaga da economia a outras dimensões da vida pública, sendo uma das suas piores marcas, é prejudicial à saúde das sociedades de capitalismo democrático. Conseguiremos saír dele com sucesso económico?