What France needs
É difícil não simpatizar com Ségolène Royal. Ségolène impôs-se ao aparelho e ao baronato do PSF, através da criação de um impressionante movimento de participação - o que, num momento em que se fala de «partidos sem militantes», é obra. Ségolène percebeu por que Jospin não passou à segunda volta nas últimas presidenciais e está a conseguir contrariar o afastamento entre elites e eleitorado que afecta a política francesa, e em especial o centro-esquerda. Falou, embora nem sempre da melhor maneira, de temas que preocupam todos os franceses mas que, inexplicavelmente, têm sido monopolizados pela direita e pela extrema-direita: a segurança interna, a identidade nacional ou o controlo democrático da acção política. Provavelmente por isto, isto é, por não ter, à semelhança de Blair, uma visão dogmática do socialismo (já dizia o Bernstein, «o movimento é tudo»), muita gente a tem apresentado como a candidata mais «à direita» destas primárias. É verdade que Ségolène criticou a medida socialista da semana das 35 horas. Mas, ao contrário do que dizia o André Freire no Diário Económico de sexta-feira passada, fê-lo na perspectiva socialista tradicional. De resto, até agora, em matéria de política económica e social a candidatura de Ségolène pouco trouxe de novo ao velho socialismo francês. E é aqui que entra o problema. Aqui, onde Ségolène se revelou mais insegura, foi sem dúvida Strauss-Kahn que apontou o caminho certo, ao defender a economia de mercado e o modelo nórdico de negociação social, num partido e num país onde falar de social-democracia e liberalismo é um crime grave. A França pode não precisar de uma Thatcher (como defendia o Economist), mas, aparentemente, também não lhe basta Ségolène no Eliseu: era bom que tivéssemos também Strauss-Kahn no Matignon.