A despenalização e o volume de abortos
O "não" entrou no período oficial de campanha do referendo tentando convencer os portugueses que a despenalização aumenta a probabilidade de ocorrência de abortos. Mas não tem um único dado no qual basear essa afirmação.
O truque de invocar a subida do número de abortos legais em Espanha (quantos de espanholas do lado de cá da fronteira?) não passa de uma manipulação grosseira, pois as estatísticas usadas não comparam o aborto antes e depois da despenalização. Se tiver havido um aumento do número de abortos legais em Espanha nos últimos anos, que diz que não haveria, nas mesmas condiçõe sociais, o mesmo ou maior aumento se fossem clandestinos?
De facto, se o efeito da despenalização no volume total de abortos é positivo, neutro ou negativo é uma questão de fé, ninguém pode provar que será este ou aquele, de um lado nem do outro.
Mas há uma coisa de que podemos ter a certeza. Os que houver serão feitos por mulheres muito mais libertas das malhas da indústria mafiosa do aborto clandestino, tenderão a ocorrer mais cedo na gravidez e serão mais seguros, diminuindo a intensidade e a extensão das sequelas físicas e psicológicas das mulheres. De um ponto de vista humanista são mudanças que alimentam boas razões para votar sim.