E se João Cravinho tiver razão?
1. Ninguém parece contestar o facto de que, a avaliar pelos indicadores da Transparency International, o nível de corrupção existente em Portugal nos coloca persistentemente em má posição no quadro da União Europeia e dos países desenvolvidos do mundo.
2. Até por isso, há três factos muito perturbantes: (1) que se argumente contra as propostas de João Cravinho – das quais só conheço o que já é público – invocando a existência de soluções alternativas que não foram dadas a conhecer; (2) que se prefira a PJ em vez da AR para sediar a prevenção do combate à corrupção; (3) que, depois do Grupo Parlamentar do PS ter rejeitado uma parte dessas propostas, alguns partidos da oposição se apressem agora a declarar que aceitarão as propostas que nada os impedia de ter apresentado há mais tempo.
3. João Cravinho tem uma carreira cívica e política de muitas décadas, que lhe deu uma competência e uma experiência política e parlamentar muito para além do que é comum e que lhe assegura o respeito e admiração de muitos dos seus companheiros de caminho e mesmo de boa parte do seus adversários.
4. Esperemos, pois, que, apesar disso, esteja enganado quando compara esta batalha contra a corrupção à necessidade de intervenções drásticas para prevenir as alterações climáticas.
5. É que, se tiver razão, quanto ao risco de “italianização” da vida política nacional, as consequências serão dificilmente suportáveis: entre a judicialização e a “berlusconização” da vida política, venha o diabo e escolha.