Mais jovens
1. Margarida Corrêa de Aguiar, no Quarta República, em texto intitulado
“Filhos precisam-se!”, argumentou que é necessário aumentar a natalidade em Portugal para combater a tendência para o envelhecimento da nossa população. O argumento só é parcialmente verdadeiro. Do que nós precisamos, eventualmente, é de mais jovens. Ora, podemos ter mais jovens quer por crescimento natural da população (mais filhos) quer por crescimento migratório.
2. Digo eventualmente porque é, ao mesmo tempo, necessário redefinir envelhecimento. Com o prolongamento da esperança média de vida não podemos continuar a usar os mesmos indicadores de envelhecimento do passado. Temos, ainda, que parar para reflectir: se continuar a tendência para o aumento do tempo médio de vida, manter rácios jovens/velhos do passado implicará um crescimento da população mundial com custos ambientais elevados. Apesar de todas as mudanças tecnológicas que conseguirmos, continuaremos a viver num mundo finito. E esta é a vantagem do crescimento pelas migrações: traduz-se numa redistribuição das populações mundiais, não no seu crescimento absoluto global. Vantagem que é anulada com a soma das políticas natalistas recomendadas pelos egoísmos nacionais.
3. Há, porém, limites mais apertados do que o desejável, para as migrações. Por isso, algum crescimento da natalidade, ou pelos menos travagem do seu decréscimo, poderá ser necessário. Para tal, porém, não vale a pena inventar mais políticas de discriminação positiva, como sugere Margarida Corrêa de Aguiar, políticas que só devem ser consideradas quando todas as outras falham. Nomeadamente, está ainda por fazer o grande investimento numa rede de creches densa e de qualidade.
4. Mais creches para mais filhos, mais imigração jovem e continuação da redefinição das fronteiras da velhice e das modalidades de passagem entre a vida activa e a reforma: seriam as minhas propostas para contrariar o envelhecimento e os seus efeitos.