As décimas não são todas iguais
1.
Não é possível deixar de ficar surpreendido - perplexo, mesmo - com a quase clandestinidade a que na imprensa escrita foi votada a divulgação do défice público de 3,9% em 2006. Afinal, o resultado apurado não ficou uma décima, nem duas, nem três abaixo da previsão de 4,6% - o que já seria uma boa notícia. Foram sete. E não adianta lembrar, porque é óbvio, que mesmo a previsão inicial já representava uma descida importante face aos valores de herdados de 2005; ou que o valor final atingido foi-o num contexto em que a recuperação e o crescimento económico são ainda moderados. Mesmo que assim não fosse, seria um resultado assinalável.
Não sei exactamente que critério jornalístico está na base da opção pela clandestinidade da notícia, mas há coisas demasiado sérias para aceitar coincidências ou distracções. No DN, em processo de transformação acelerada, o máximo que o assunto mereceu foi uma referência secundária na capa do suplemento de economia (!) - sem chamada, sequer, à capa principal. Sobre o Público, o João Pinto e Castro escreveu, e bem, o que havia a escrever.
2.
Mas há outro lado da questão: e se os números em causa fossem não 4,6% (previsão) e 3,9% (resultado), mas sim 4,6 (previsão) e 4,8 ou mesmo 4,7 de resultado? Isto é, se o desvio fosse para pior em vez de para melhor, mesmo que marginalmente.
Será que uma ou duas décimas de incumprimento seriam votadas a uma clandestinidade sequer comparável à das SETE décimas de superação da meta orçamental agora conseguidas?