quarta-feira, 21 de março de 2007

Brincar com coisas sérias

Ontem uns deputados do PCP fizeram umas declarações insurgindo-se contra o facto de, apesar de ser expectável há muito tempo (anos) que viesse a acontecer o que aconteceu na Costa, ninguém ter feito nada. PCP que, por mera coincidência, há muitos anos preside à Câmara de Almada. Na altura, falaram das “marés vivas” que ocorreriam por estes dias. Hoje, do Ministro da tutela, finalmente despertado da sua longa letargia, chega-nos esta pérola: “As obras estruturais de fundo não se fazem em período de tempestade", sublinhou Nunes Correia em conferência de imprensa, explicando que foi necessário esperar por "condições do mar mais propícias" para iniciar estas duas intervenções. Segundo o ministro, só agora, depois daquelas que "terão sido as últimas marés vivas de grande dimensão", será possível avançar com as obras que, garante, "resolvem o problema" do avanço do mar na Costa da Caparica "de forma bastante duradoura” (via público).
Eu gostava de saber exactamente o que é uma maré viva, conceito que desconheço em absoluto. Mas, assumindo tratar-se de uma amplitude de maré muito significativa (baixa-mar com pouca altura e preia-mar com altura significativa – próprio da lua cheia e da lua nova), combinado com ondulação forte, gostava de saber o que é que impede que daqui a um par de semanas tenhamos novamente uma ondulação forte, com o pico na preia-mar. Aliás, a próxima preia-mar de lua nova, que ocorre no dia 17 de Abril, terá uma altura de 3.8, o que não representa uma grande diferença face aos 4.0 do da passada terça-feira. O senhor ministro, portanto, está a garantir que não vai haver uma ondulação com dimensões significativas na Costa portuguesa nessa altura. Acontece que há coisas com que não se brinca e a natureza é uma delas.