A dispensabilidade da realidade
Começa o calor, começa o delírio dos rankings. É como se a perda de lucidez tivesse uma misteriosa sazonalidade, tipo febre dos fenos. Não por causa da ideia de ordenar (palavra portuguesa para ranking bem menos misteriosa) cursos e universidades (ou escolas, ou institutos, ou faculdades, ou tudo ao molhe…). Mas por que parece que o acto de ordenar dispensa qualquer critério de objectividade e rigor.
Em boa verdade, é possível concluir-se ser a realidade irrelevante no processo de elaboração de um ranking (embora talvez fosse menos descartável num mais modesto exercício de ordenação). E se não acredita veja o último número da revista Focus: pois não é que o ISCTE é aí o melhor numa licenciatura que nem sequer lecciona? (Eu já sabia que éramos os maiores, mas desconhecia a possibilidade de sermos tão bons que nem precisássemos de o provar, tendo, por exemplo, o trabalho de leccionar.)
Ora, coisas de gente picuinha. De facto, é irrelevante a ausência de uma licenciatura em Relações Internacionais no ISCTE num artigo que tem como título “Saiba como escolher a faculdade”: e no qual se recomenda que, se quiser estudar Relações Internacionais, deve fazê-lo no ISCTE (ou na Universidade do Minho, mas esta é recomendação espúria, pois a dita tem mesmo um curso destes a funcionar).
Seja picuinhas, mas a verdade é que me apetece sempre ordenar os jornais quando leio tais rankings.