O drama de Lisboa
Não é fácil encontrar um observatório tão conciso das causas que afastam os portugueses da política como os últimos tempos na Câmara de Lisboa. Passo a passo, foram surgindo todos os factores de desconfiança dos cidadãos na política: as relações perigosas entre o poder autárquico e os interesses ligados à construção civil (a que parecem não escapar nenhum partido); a crescente tendência para a partir do Ministério Público ser feita política, aceite explícita ou implicitamente pelos partidos; o fechamento claustrofóbico das estruturas partidárias locais, que já não representam quase nada e sustentam-se em mecanismos de reprodução de poder em circuito fechado, assentes em sinecuras na órbita do poder autárquico; e, finalmente, a lógica politiqueira, que valoriza a intriga de fontes anónimas com eco em jornais, em lugar de aceitar a dissensão com base em diferenças aceites abertamente e acomodadas organicamente.
Em política, o que parece é. E o que parece que se passou em Lisboa é exactamente uma combinação de todos estes factores. O drama de Lisboa não é só a desordem na administração da cidade e o descalabro financeiro, é ter-se tornado um paradigma da degradação da política.
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