O examinês não é alternativa
Com Nuno Crato no papel de ideólogo e José Manuel Fernandes no de pregador, a campanha contra o eduquês transformou-se, nos últimos tempos, numa cruzada pelo examinês.
1. É preciso avaliar a progressão dos alunos? Exames externos nacionais no fim de todos os ciclos! É preciso avaliar as escolas? Exames externos nacionais no fim de todos os ciclos! É preciso avaliar os professores? Exames externos nacionais no fim de todos os ciclos! E por aí adiante, qualquer que seja o problema a solução apresentada é sempre a mesma, com o atractivo das respostas simples, universais e, aparentemente, sensatas.
Só assim, diz-se, será possível comparar com objectividade os resultados de alunos, escolas e professores. Objectivamente, no entanto, a tese está errada.
2. Está errada, em primeiro lugar, porque o que assim se compara mistura, sempre, diferentes méritos: de alunos, de professores e de escolas. E mistura, também, méritos e condições. Se, como acontecia quando eu andava no liceu, houver turmas de bons e de maus alunos com professores diferentes, os resultados dos alunos apurados em exames nada dirão sobre o mérito do trabalho dos respectivos professores — excepto, claro, se no final “ganhar” a turma dos, à partida, maus alunos (caso raro…).
3. O mesmo raciocínio aplica-se à avaliação das escolas com este método. Por mais classificações de escolas que se façam com base nas notas dos seus alunos em exames nacionais (os famosos rankings), o resultado será sempre o mesmo: as escolas com melhores alunos à partida verão os seus alunos ter melhores notas nos exames independentemente do seu mérito relativo. No fim fica-se na mesma com a necessidade de avaliar as escolas com outros métodos.
4. Segundo José Manuel Fernandes, porém, a solução dos problemas da educação é simples: façam-se exames nacionais externos no fim de todos os ciclos e deixe-se as famílias inscrever livremente os seus filhos nas escolas que nesses exames virem os seus alunos mais bem classificados. Exame e escolha, eis a parelha vencedora! E é verdade que esta solução teria resultados práticos claros, seleccionando alunos, escolas e professores, permitindo, em poucos anos, distinguir claramente umas quantas escolas de excelência.
5. Teria, também, um problema. Em nada contribuiria para melhorar a qualidade da maioria das escolas (e não só de umas quantas) e para generalizar o sucesso escolar entre os alunos. Seria um mecanismo de selecção “dos mais aptos”, não um instrumento para qualificar um ensino massificado. E esse é o objectivo principal da escola pública: possibilitar que o maior número possível de alunos aprenda o mais possível tão bem quanto possível. Tendencialmente, que a totalidade dos jovens termine, com sucesso, o ensino secundário, numa das suas múltiplas vias.
6. Não é um objectivo irrealista, como o comprovam as taxas de escolarização alcançadas tanto nos países nórdicos como em muita da Europa do Leste. Países em que não existem, no entanto, os repetidos exames exigidos por Crato & Fernandes. Facilitismo, gritar-se-á por essas bandas: pena, porém, que os resultados no PISA também aí sejam melhores do que entre os campeões mundiais do chumbo e da repetência (leia-se, Portugal).
7. No fundo, talvez o examinês seja alternativa, global e não só nacional. Mas, nesse caso, é, decididamente, alternativa reaça.