Era desnecessário
Segundo Vasco Pulido Valente, “tirando as leis que instituíram a democracia, o PREC não deixou uma única reforma necessária e durável” (Público, 26 de Abril). Dito assim, sem mais, corresponde a descartar como insignificantes rupturas que estiveram na base do estado social das últimas décadas (apesar da propositada ambiguidade introduzida pela referência temporal ao PREC). Apenas alguns números para se saber o que mudou “desnecessariamente e de modo não durável”.
Em primeiro lugar, na saúde: em 1970, só 38% dos partos eram feitos em estabelecimentos de saúde, percentagem que subiu para 74% em 1980 e para 96% em 1990; no mesmo período, a mortalidade infantil baixou de 56‰, em 1970, para 24‰, em 1980, e para 11‰, em 1990.
Em segundo lugar, na educação: a taxa de escolarização no secundário, que era apenas de 9 % em 1977, atinge hoje, 30 anos depois, 60%. No ensino superior, o número de alunos inscrito passou de pouco menos de 50 mil, em 1970, para 84 mil, em 1980, e para mais de 340 mil no final do século.
Finalmente, e talvez mais exemplarmente, na segurança social: em 1970 havia cerca de 51 mil pensionistas (por velhice); em 1980, eram já mais de um milhão…
O problema foi mal enunciado por VPV. Mais do que saber se as reformas são necessárias ou desnecessárias em geral, importará saber a quem são necessárias. As reformas citadas talvez fossem desnecessárias para VPV & Companhia, mas foram indispensáveis para melhorar a qualidade de vida da grande maioria dos portugueses. E de modo durável, apesar das carpideiras de sempre.
Desnecessário era tanto snobismo por parte de VPV.