A regra democrática
1. A Câmara Corporativa tinha já concluído que da entrevista de António Cluny à TSF/DN, publicada no DN de 13 de Abril (pp. 2-5), se retira que este “não encontra diferenças entre o regime democrático na Espanha e o regime totalitário na China”. A conclusão baseia-se naquela parte da entrevista em que Cluny é questionado sobre um eventual boicote aos Jogos Olímpicos de Pequim:
“TSF/DN — Se a decisão fosse sua, Portugal participaria nos Jogos Olímpicos de Pequim? // António Cluny — Não vejo problemas. Por essa ordem de ideias teríamos de estar a pensar, se houvesse Jogos Olímpicos em Espanha, na situação no País Basco. E esse raciocínio pode fazer-se em muitos outros sítios do mundo. Se os Jogos Olímpicos fossem nos Estados Unidos, por essa ordem de ideias tínhamos de pensar em Guantánamo…”
2. O que Cluny desvaloriza quando não distingue entre os regimes políticos em vigor na China, em Espanha e nos EUA é a regra democrática. Na China, os problemas de direitos humanos devem-se ao regime político, não ao mau funcionamento deste. Em Espanha, a questão basca resulta de reivindicações micronacionalistas (pouco progressistas), não da prevalência de uma qualquer regra autoritária. Nos EUA, o problema de Guantánamo deve-se a um mau funcionamento temporário e localizado das instituições democráticas, o qual, aliás, põe em causa referências básicas da tradição política americana.
Ou seja, e ao contrário do que alguma vez será possível fazer na China, são os fundamentos do regime democrático em vigor nos EUA que são invocados para contestar aquelas práticas políticas que, hoje, ferem, mas não substituem, a regra democrática nos EUA.
São esses fundamentos que Cluny desvaloriza quando torna tudo igual.