quarta-feira, 14 de maio de 2008

Retrógrado? Pior, é estúpido!

O ex-subsecretário de Estado para os Assuntos Pedagógicos, Santana Castilho, pergunta se “chumbar é retrógrado”. Resposta: factualmente, sim, em termos avaliativos é pior, é estúpido. A avaliação baseia-se na conhecida definição de estupidez por Cipolla, enquanto acto em que todos perdem, inclusive quem o praticou.

1. O erro de Santana Castilho tem por base a seguinte afirmação: “a missão da escola é ensinar a todos os alunos que a demandam aquilo que está previsto” (Castilho, Público, 14/05/08). No ensino obrigatório, os alunos não “demandam” a escola, são obrigados pelo Estado a nela permanecerem durante o período do ensino… obrigatório (é por isso, aliás, que se chama obrigatório!). Ora, o ensino obrigatório só faz sentido se a missão da escola incluir ensinar o máximo a todos, encontrando formas de o fazer mesmo com aqueles que têm uma fraca motivação para estudar ou enfrentam maiores dificuldades de aprendizagem. Note-se bem: o que está em causa não é substituir o chumbo pela passagem mas pelo trabalho de recuperação que evite o chumbo.

2. A razão por detrás da recusa do recurso fácil ao chumbo explica-se facilmente: está hoje provado que a repetência culmina muito mais frequentemente em percursos de insucesso sem retorno do que na recuperação de episódios de insucesso. É pois necessário substituir a repetência pela recuperação caso se queira melhorar as possibilidades de sucesso de quem frequenta o ensino obrigatório, afectando meios extra a este esforço extra de recuperação. E, sendo os recursos finitos, só é possível investir mais na recuperação evitando o (enorme) desperdício de recursos com a repetência.

3. Se o chumbo é estúpido no ensino obrigatório, é-o também para além deste, quando, como no superior, estamos perante alunos que “demandam” a escola. Neste caso, a escola deve substituir o chumbo pela selecção à entrada e por formas de acompanhamento, nomeadamente tutorial, incrementando as possibilidades de sucesso dos seus alunos em vez de delapidar recursos com percursos de insucesso. E deve fazê-lo com rigor crescente à medida que se vai subindo no sistema de ensino, sempre pelas mesmas razões: o chumbo e a repetência não favorecem a recuperação e consomem recursos necessários à expansão e melhoria da qualidade dos sistemas educativos.