terça-feira, 15 de julho de 2008

É a política, estúpidos!

Com a autoridade científica de quem ganhou o Nobel da economia e é um dos economistas mais citados no mundo inteiro e com o saber de experiência feito construído ao longo de uma carreira que inclui a Vice-Presidência do Banco Mundal, Joseph Stiglitz tem legitimidade que chegue e que sobre para falar claro e para esperar ser ouvido.

E continua a fazê-lo.

O artigo hoje publicado no Diário Económico, é mais um exemplo de crítica virulenta das pseudo-inevitabilidades que as "Reaganomics" e várias outras versões do fundamentalismo de mercado afirmam serem inerentes ao desenvolvimento económico contemporâneo. Numa crítica ácida ao oportunismo conjunturalista dos neo-liberais que ontem defendia o "Estado mínimo" e a desregulamentação e agora clamam por intervenções públicas a favor dos criaram as crises que as sucesivas "bolhas" especulativas vão evidenciando, afirma:

Os defensores do fundamentalismo de mercado querem agora que os erros do mercado sejam vistos como erros de governo. Um delegado do governo chinês colocou o dedo na ferida: os EUA deviam ter feito mais para ajudar os norte-americanos com rendimentos mais baixos a gerir melhor o problema do crédito hipotecário à habitação. Estou plenamente de acordo, mas isso não altera os factos: os bancos norte-americanos geriram especialmente mal o risco e essa má gestão tem consequências globais. Mas a injustiça é ainda maior quando se sabe que, apesar dos erros, os gestores dessas instituições saíram airosamente e com indemnizações milionárias.Actualmente, existe uma grande disparidade entre os retornos sociais e os retornos privados. Se não forem alinhados, o sistema de mercado nunca poderá funcionar bem. O neo-liberalismo foi sempre uma doutrina política ao serviço de certos interesses e nunca se fundamentou em teorias económicas. Tal como, sabemo-lo hoje, não é fundamentado em experiências históricas. Se aprendermos esta lição, talvez se faça luz ao fundo do túnel. [sublinhado meu]

Uma vez mais: não, não há determinismos económicos ques e imponham à decisão política. O que há são escolhas políticas -condicionadas à realidade ou ao que dela sabemos, é claro! - orientadas por valores e por interesses.
Uma vez mais ainda: não, não é a economia. É a política, estúpidos!