Crise, desemprego, discriminação
1. Segundo o Director-Geral da Organização Internacional do Trabalho, Juan Somavia, a crise financeira global poderá traduzir-se num aumento do desemprego mundial estimado em pelo menos 20 milhões de pessoas. Recomenda, por isso, mais coordenação intergovernamental, para evitar uma crise social de grande amplitude em consequência do clássico efeito dominó: crise financeira, colapso económico, crise social.
2. Nos países desenvolvidos, os eventuais novos desempregados não se distribuirão igualmente por todas as categorias sociais. Provavelmente, serão mais atingidos pelo aumento do desemprego todos os que puderem ser mais facilmente discriminados, sobretudo em termos raciais, mas também sexistas. É a continuação do efeito dominó, agora num perigoso circuito de retroacção: da crise social às pressões para a discriminação, destas para o desenvolvimento político da extrema-direita, deste para mais pressões discriminatórias, …
3. Para além de mais coordenação intergovernamental no plano socioeconómico, é pois também necessária mais e melhor monitorização da discriminação nos mercados de trabalho dos países desenvolvidos. E o futuro dependerá, depois, da maior ou menor contemporização com eventuais pressões identificáveis através daquela monitorização. Uma tese a que voltarei: contemporizar com essas pressões será suicida para o campo democrático.