Expresso: notas de leitura
Do Expresso de 18 de Outubro de 2008.
1. Sobressalto: na 1.ª página cita-se o cardeal Saraiva Martins como tendo afirmado “Deputados não representam o povo”. Afinal, o cardeal teria dito (consultando a entrevista na página 8) que “nem sempre o parecer dos políticos exprime a vontade geral” (um pouco diferente). Critérios editoriais de mau gosto ou decisão de Monica Contreras, a jornalista que conduz a entrevista ao estilo de João Carlos Espada, falando do cardeal com o enlevo com que Espada fala de Popper ou dos clubes ingleses (tipo “nas respostas às perguntas mais sensíveis usa o tom de sábio…”)? Note-se ainda, nas palavras do cardeal, o costumeiro argumento da nostalgia por um mundo passado onde os valores humanos teriam imperado. O que exige a reafirmação, em contraponto, do facto simples de vivermos na era em que mais respeito generalizado pelos direitos humanos se pratica.
2. A propósito de cardeais e de Monica Contreras, a caixa sobre a proclamação das virtudes do criacionismo por Jónatas Mendes Machado, professor da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Segundo o jurista, o evolucionismo tem que estar errado por dele resultar uma representação cruel do mundo — ou de como transformar o critério moral em critério de verdade, com todos os riscos totalitários daí resultantes.
3. Talvez a moral esteja apenas na página errada. Nas notícias sobre a crise na Islândia (página 42), dá-se conta da irritação inglesa, e de Brown em particular, com a possibilidade de, com a crise, os depositantes ingleses, como os islandeses, ficarem sem boa parte das poupanças que tinham colocado nos bancos da Islândia atraídos pelas altas taxas de juro que aí obtinham. Mais autoridade moral para agora anunciar represálias teria exigido, no passado, alertas públicos sobre o risco de tais depósitos, não a indiferença perante a roleta da economia-casino…