Sete boas razões para Paul Krugman ter sido Prémio Nobel da Economia
Há uns anos, numa reunião com uma delegação do FMI, o Francisco Madelino disse que considerava Paul Krugman um dos nossos grandes economistas, causando uma discordância cordial mas fria dos nossos interlocutores. Agora que o FMI parece ter mudado de orientação e Krugman ganhou o Nobel não sei se o sorriso diplomático se manteria ou em que se transformaria, mas pedi ao Francisco Madelino um texto Canhoto sobre as razões para Krugman ter um Nobel. Ele fez no próprio dia, eu é que andei desligado da net.
Aqui ficam as razões dele.
«Acompanho o trabalho de Paul Krugman intensivamente há quase duas décadas. No ensino, por via do seu manual International Economics. Policy and Theory. Na Net, através das suas crónicas às terças e quintas no New York Times. Nos livros, lendo obras com títulos sugestivos e provocadores como Pop Internacionalism.
Foi anunciado ontem que é Nobel da Economia em 2008. Merecidamente. Pela conjuntura, talvez. Pela sua obra, certamente. Pela sua capacidade de militância cívica, um exemplo. Pela sua intervenção, contra as ortodoxias cinzentas e teológicas cheias de teias de aranha da nomenclatura académica dominante da economia, corajosa. Espantoso como se ergue agora uma espécie de unanimidade, mesmo por aqueles que defenderam o contrário das suas teses e da sua forma de ser e estar.
Sete razões para realçar o prémio.
1. Por ter trazido o economista ao centro da intervenção social e política, lembrando que a economia é uma ciência social, e que os objectivos das suas conclusões é dotar os homens de instrumentos de intervenção para intervir sob forma de políticas.
2. Por ter chamado a atenção, anos a fio, para os efeitos da descolagem dos movimentos financeiros internacionais dos movimentos de bens e serviços, situação que, aliada às formas crescentes de desregulação dos mercados, colocava a economia internacional à beiras de colapsos potenciais. Logo no caso Eron, por exemplo, não se cansou de criticar Bush por não rever as formas de regulação dos mercados imobiliários e não proibir os pagamentos de prémios aos gestores, sobre a forma de participações no capital, argumentando que isso estaria na base de valorizações fictícias dos balanços.
3. Por ter defendido sempre a globalização económica, como uma forma suprema de trazer crescimento ao mundo, mas que esta carece sempre de regulação. Mais acrescentou que é, em certa medida, errado assentar a ideia de que os países competem no comércio internacional, considerando, pelo contrário, que são as empresas que o fazem, pelo que a diferença é fundamental quando se fala em políticas comerciais estratégicas.
4. Por ter chamado a atenção que, embora o comércio internacional possa trazer ganhos para todos, em certas situações isso pode não acontecer. Se um país tiver entrado primeiro no comércio mundial, e assentar a sua competitividade em produções em grande escala, complementadas adicionalmente em vantagens decorrentes de economias de aprendizagem e de aglomeração, os outros países tem uma barreira à entrada neste mercado, indiciando assim que se poderia justificar uma política inicial proteccionista, embora chamando a atenção para os riscos desta intervenção.
5. Por ter realçado que as imperfeições dos mercados, por exemplo decorrentes de diferenciação dos produtos, leva a que os países se possam especializar nos mesmos sectores, só que em nichos de produtos muito específicos, e comercializar entre si. Demonstra assim que quando países com os mesmos níveis de desenvolvimento se abrem ao comércio, caso do processo de construção de mercado interno na UE, se especializam nos mesmos sectores, não havendo então especialização inter mas intrasectorial, justificando-se esta na diferenciação dos produtos e nas economias de escala de grandes produções de produtos diferenciados. Mais acrescentou que muitas vezes, na razão desta diferenciação, estão acidentes históricos.
6. Por ter estabelecido uma relação entre a economia internacional e a economia regional. Na sua opinião, as especializações verificam-se mais dentro dos países, ou seja, entre regiões, do que entre nações. Por duas razões. Porque há mais liberdade de comércio. Porque é nelas que se localiza o capital humano e as redes de conhecimento e de aprendizagem. A partir desta segunda razão observa-se que se iniciam movimentos dinâmicos de economias de aglomeração, em que se constroem infra-estruturas, redes e aprendizagens que consolidam as vantagens competitivas de certos nichos de mercado, ampliando-as, através dum aprofundamento das economias de escala e dos processos de. Verificamos assim as populações dos países se agrupam crescentemente em grandes urbes metropolitanas, em poucas regiões onde se localizam as suas empresas mais competitivas, e que beneficiam amplamente de economias externas. As nações regressam então às cidades-Estado.
7. Por ser simples na suas explicações e por pôr a história, e consequentemente o tempo e os homens, na explicação dos fenómenos económicos.
E já agora uma curiosidade. Foi contra a moeda única europeia. Utilizando a teoria das áreas monetárias óptimas, tinha a convicção que a Europa não tinha a liberdade movimentos económicos entre si, traduzida em grandes volumes de transacções internacionais, que levasse a que os efeitos positivos do euro fossem superiores aos negativos. Já nos EUA se justificaria uma única moeda. Julgo que se enganou aqui. Subvalorizou as relações circulares de causa-efeito.»
Francisco Madelino