Má consciência, paralisia cúmplice
1. Na Prospect, Tim Butcher analisa a situação no Congo, onde morrem por dia, em resultado da guerra, mais pessoas do que nos piores períodos das guerras do Afeganistão ou do Iraque. Discordando dos que explicam o conflito como o resultado de rivalidades étnicas, salienta, em contraposição, o papel da China e do Ruanda. O primeiro, por praticar uma política de pilhagem dos recursos mineiros do Congo sustentada pelo apoio financeiro concedido ao regime de Kabila, com quem teria assinado um acordo no valor de cinco mil milhões de dólares. O segundo por armar os rebeldes do Kivu tendo por objectivo sentar-se à mesa das partilhas do tributo vindo de Leste.
2. A impunidade de uns e de outros seria facilitada pela paralisia induzida pela culpa. Citando: “Rwanda is the Israel of central Africa, a country forged through suffering, with a far superior military to its neighbours and influence across the Great Lakes region. Our outsiders’ sense of guilt for 1994 should not stop us from criticising it for fomenting the current violence. Nor should guilt about the results of our colonial scramble for Africa more than a century ago prevent us criticising the Chinese for provoking a new cycle of violence.”
3. São os lamentáveis mas previsíveis efeitos da triste transformação da memória dos crimes coloniais em exercício de “culpabilização colectiva” a-temporal. Com efeitos de causalidade cumulativa, pois a paralisia de hoje alimentará amanhã novo exercício de culpabilização colectiva (como ficou já demonstrado com os silêncios cúmplices sobre o genocídio do Ruanda na década de 90), o qual gerará novos silêncios cúmplices, como hoje sobre o Congo, e novos processos de culpabilização colectiva, e novos silêncios, e novos processos de…