Razões de uma reforma inadiável (2)
1. A mais elevada taxa de repetência no ensino primário do mundo desenvolvido tinha que ter consequências. E tem: nos níveis seguintes de ensino as taxas de escolarização em Portugal são já não as de um país desenvolvido mas as de um país em transição (de desenvolvimento intermédio). Continuando a olhar para os dados usados pela UNESCO no relatório Education for All by 2015: Will we Make It?, verifica-se, de facto, que a taxa de escolarização no ensino secundário (incluindo o 3.º ciclo do básico) é de 83%, contra 92% no grupo dos países desenvolvidos. Isto é, apenas ligeiramente acima dos 82% verificados no grupo dos países em transição. No ensino superior mantém-se a distância de dez pontos percentuais em relação ao grupo dos países desenvolvidos: 56% contra 66% (taxa bruta de escolarização). E, agora, não há já sequer qualquer diferença entre a taxa em Portugal e no grupo dos países em transição (ver figura). Mas há ainda quem se lamente do excesso de “doutores” em Portugal…
Taxas de escolarização no ensino secundário secundário e superior, 2005
Fonte: Fonte: UNESCO (2008), Education for All by 2015: Will we Make It?
2. Se olharmos apenas para a percentagem de jovens com idade compreendida entre os 20 e os 24 anos que concluiu o ensino secundário nos diferentes países europeus, o atraso nacional é ainda mais visível. Não vale a pena reescrever o que já disse aqui no Canhoto, mas vale a pena repor parcialmente um post de Junho de 2005 e o gráfico que o acompanhava.
Percentagem da população dos 20 aos 24 anos com o secundário completo, 2004
Fonte: Eurostat
Citando:
«– neste conjunto de 30 países europeus, o valor do indicador varia entre 48% (Malta) e 95% (Noruega);
– Portugal, com apenas 49% de novos jovens activos (20-24 anos) com o secundário completo, é o penúltimo país europeu neste ranking, partilhando com Malta a duvidosa honra de ser um dos dois únicos países da lista com valores inferiores a 50% (e um dos três, em 30, com valores inferiores a 60%, e um dos quatro abaixo dos 70%…);
– com valores superiores a 90%, isto é, com praticamente toda a população jovem a completar o secundário, estão, para além da Noruega, a Croácia, Eslováquia, República Checa, Eslovénia e Polónia;
– Irlanda e Finlândia, os dois do costume, ocupam lugares no topo da tabela, com taxas de conclusão do secundário, entre as novas gerações, à roda dos 85%.»
3. Sem vencer estes atrasos não haverá modernização possível e sustentável do país.