Reacções a "um recado prudente..."
O texto que escrevi a propósito das reflexões de Mário Soares sobre a avaliação de desempenho mereceu de alguns leitores reacções enviadas para a minha caixa de correio. Dado o interesse dos textos pedi-lhes autorização para os publicar aqui, expandindo a opinião reflectida no Canhoto. Recebi autorização para publicar dois, que aqui ficam. Desde já agradeço aos seus autores terem vindo a este debate sobre uma reforma importante de per si e que se tornou simbólica do espírito reformista deste governo.
As reflexões do Dr Mário Soares e as suas próprias, inseridas no seu blog "Canhoto" merecem toda a minha concordância, mas, perdoe-me a petulância, pecam por ingénuas. Isto a acreditar que o que lá escrevem é exactamente o que pensam e não uma tentativa de moderadamente introduzirem algumas marcas ao caminho a percorrer.
É que se genuinamente acreditam que os professores aceitam ser avaliados por um sistema seriamente avaliador e diferenciador, devem desenganar-se. Quem tem ligação directa ao meio dos professores sabe que, na sua generalidade, os professores não aceitam perder a autonomia que se habituaram a ter dentro das escolas. E não se poderá dizer que essa autonomia foi sempre mal aproveitada. Muitos bons professores fizeram dela bom uso. Mas muitos e muitos professores que entraram para o ensino por ser essa a única saída profissional disponível, têm feito dessa autonomia o desprestígio da classe.
A reforma proposta nas suas diversas vertentes, tenta reorganizar a escola, nomeadamente através da sua hierarquização. Isso é absoluta e definitivamente rejeitado pela generalidade dos professores. Até mesmo pelos bons professores que nada tinham a perder com isso, mas que viveram durante anos e anos uma organização de escola em que eram todos colegas e ninguém pedia responsabilidades a ninguém. E se prestar contas incomoda algumas pessoas, pedi-las não incomoda menos. Assim se juntam todos na rejeição.
Se alguém tinha dúvidas das seriedade das críticas anteriormente apontadas ao jovem sistema de avaliação proposto, creio que não podem mantê-las quando após a sua eliminação pela tutela, os professores insistem na rejeição do sistema. Fica claro que não eram aquelas anomalias, aliás ridiculamente não corrigidas por quem tinha de operar o sistema, a verdadeira razão da luta.
Afonso Moura Pacheco
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Boa noite, sou professor, leitor assíduo do Canhoto. Faço parte da minoria de professores que não participaram nas duas manifestações deste ano, em toda a minha actividade profissional nunca aderi a greves. Sou dos que entendo que a educação precisava e precisa de mudanças, não considero o actual modelo de avaliação dos professores assim tão complexo e não o tenho combatido na minha escola. Isto até hoje, 3.ª feira, dia em que se tornou oficial a vontade do Ministério em avaliar os Directores/Presidentes das escolas através do SIADAP. Tendo o Ministério desburocratizado por sua iniciativa o seu modelo, respeitando os professores e não comprometendo a reforma educativa, o melhor caminho seria o do acordo. Por outro lado, o Ministério deu um grande passo, pelo que, para quem acredite no diálogo social percebe que o próximo terá que ser dado pelos sindicatos. Um grande passo? pôr os presidentes das escolas a ser avaliados pelos directores-regionais, que, com todo o respeito, não passam de comissários políticos? Onde está a autonomia das escolas? Se o Presidentes/Directores são eleitos pelos conselhos gerais das escolas, onde os representantes da comunidade estão, e bem, em maioria, e é a estes que prestam contas, por que razão, terão, também, de as prestar aos burocratas dos serviços regionais?
Se este regime de avaliação dos presidentes for para a frente será a definitiva transformação da escola pública em repartição. Isto é gravíssimo! Não pode acontecer.
Arranje-se forma de os avaliadores do Presidente/Director serem os membros da comunidade no conselho geral, nunca quem está fora das escolas. Se o governo é contra a avaliação externa dos professores, tal como eu sou, não faz sentido fazer o contrário em relação aos Directores Escolares.
A bem da escola pública autónoma.
Cristiano Silva