A crise como oportunidade
A carta aberta enviada por John Monks, Secretário-geral da Confederação Europeia de Sindicatos, ao Conselho Europeu de hoje e de amanhã é um bom contributo para a definição duma agenda de debate das soluções para a saída da crise actual do capitalismo europeu.
E é-o porque, incluindo o apoio a medidas de limitação dos efeitos da crise, vai além disso e esboça os termos do debate do que serão as soluções necessárias: uma nova articulação entre o nível europeu e os níveis nacionais de decisão sobre um novo quadro regulador que reconstrua as sinergias entre um crescimento económico sustentável e o aumento da margem de liberdade para o desenvolvimento de políticas salariais e de trabalho que não estejam tão sujeitas às regras da “economia de casino”, que o neoliberalismo criou e cujo modelo alternativo a esquerda reformista ainda não foi capaz de conceber e de apresentar com sucesso aos eleitorados europeus.
É que, para além das indispensáveis medidas de contenção da crise sistémica induzida pelas bolhas especulativas criadas pelo sistema financeiro, é esse o desafio que está diante de nós: criar um novo sistema de regulação dos mercados financeiros, económicos e de trabalho, dos sistemas de emprego e dos sistemas de protecção social. Menos do que isso é, como bem sublinha John Monks, business as usual, quer dizer, um modo de desculpabilização recíproca entre a “Europa” e os governos dos Estados membros, que deixa fora da agenda o ponto essencial: a criação dum novo modelo de articulação virtuosa entre o crescimento económico, a redução das desigualdades induzidas pelos mercados e a promoção da equidade social.