Arrebatamentos nacionalistas, capitulações classistas
1. Nas declarações de Manuela Ferreira Leite sobre as “queixinhas” irritou-me, acima de tudo, o jogo nacionalista primário do anti-espanholismo. Jogo reforçado, aliás, nas “correcções” de Aguiar-Branco, que referiu ser aspecto central no discurso da líder não tanto o papel da comunicação social mas sobretudo a insistência de que o TGV é assunto de política interna. Sem ter ido tão longe quanto Paulo Portas, que por alturas do afundamento do Prestige afirmou ser obra de Nossa Senhora o facto de o naufrágio não ter ocorrido em águas portuguesas (mas sim espanholas), Manuela Ferreira Leite bem podia ter evitado esta tangente à direita populista.
2. Até porque, se quisesse fazer da afirmação da soberania nacional uma bandeira de combate político, não seria difícil arranjar alternativa justificável. Por exemplo, na linha do que Nicolau Santos escreveu, e bem, este fim-de-semana no Expresso sobre a falta de vergonha de empresas de rating como a Standart & Poor’s, a qual ameaça rever em baixa a classificação da República usando a mesma ligeireza de critérios que, antes da crise, a levou a atribuir a mais elevada classificação à Islândia. Aqui, porém, o preconceito ideológico foi mais forte e a capitulação classista o seu resultado óbvio.