A profecia auto-realizável: o silêncio do Presidente
Manda o respeito que as instituições do Estado de Direito devem merecer aos democratas que o Presidente da República seja poupado à brega política.
Mas, no caso Freeport - sobre o qual, uma vez mais, estou inteiramente de acordo com o que Vital Moreira escreveu no Público de hoje - foi o próprio Presidente da República que criou a si próprio uma situação da qual só poderá sair com a dignidade que o voto portugueses lhe atribuiu com uma palavra, e uma palavra muito clara.
Ao classificar o caso Freeport como um "assunto de Estado", impôs a si próprio o dever de esclarecer os portugueses acerca (i) do fundamento da sua declaração, (ii) dos motivos do silêncio que tem mantido e (iii) das consequências que retira das diligências que não pode deixar de estar a fazer para cumprir, como lhe exige a Constituição da República, o seu dever de assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas.
Depois da declaração que fez, estando, como está, o Primeiro Ministro a ser diariamente bombardeado com insinuações dos media que atingem gravemente a sua honorabilidade, a manutenção do silêncio do Presidente confirma que estamos perante um assunto de Estado: o do funcionamento das instituições democráticas.
Mas, neste caso, do seu funcionamento anormal.