De volta ao país dos doutores
1. João Pereira Coutinho, num dos últimos números do Correio da Manhã, contesta, com ar de politicamente incorrecto, o alargamento da escolaridade obrigatória para 12 anos. Argumenta: será que todos os alunos têm condições para chegar ao 12.º ano? E conclui: com este optimismo educacional, que apelida de “romantismo”, acabamos num país só de doutores.
2. Com um pouco mais de cuidado, João Pereira Coutinho poderia começar por verificar que não se obriga ninguém a chegar ao 12.º ano de escolaridade e a concluí-lo, mas a estar 12 anos na escola, até aos 18 anos de idade. O que significa que se reconhece que haverá alunos que no fim daquela permanência na escola não terão concluído o 12.º ano. Mas espera-se, também, que o número de alunos nessa condição seja o mais reduzido possível. Romantismo? Não: menos paroquialismo.
3. Já em 2004, a percentagem de jovens com entre 20 e 24 anos que tinham concluído o secundário atingia os 95% na Noruega e os 91% na República Checa. A não ser que se assuma que os noruegueses e checos sejam hiper-inteligentes e que os portugueses sejam hiper-estúpidos, não se percebe por que razão tais taxas não possam vir, a prazo, a ser atingidas também em Portugal. Até porque não me parece que Noruega e República Checa possam ser facilmente rotulados de paraísos do “facilitismo”.
4. Mais conhecimento do mundo permite também duvidar do fundamento da ironia “do país dos doutores”. Com já referi no Outubro, o problema em Portugal não é propriamente de excesso mas de défice de frequência do ensino superior. Em 2005, a taxa bruta de escolarização no ensino superior era em Portugal de 55%, a comparar com os 67% em Espanha, 72% na Rússia, 73% na Austrália, 82% nos EUA e na Suécia, ou 93% na Coreia do Sul e na Finlândia!
5. Infelizmente, parece que em Portugal há muitos que tendo tido a possibilidade de ir mais longe nos estudos do que a maioria receiam perder a vantagem competitiva assim obtida…