Investimento, liberdade, verdade
1. Não é pelas roupagens poéticas que o discurso de Paulo Rangel em nome do PSD nas cerimónias comemorativas do 25 de Abril na Assembleia da República ganha em razoabilidade. Dizer que o investimento público sequestra a liberdade de decisão das gerações futuras é profundamente demagógico.
2. Em primeiro lugar, o investimento é isso mesmo: investimento, não consumo. O que significa que o valor que hoje se gasta não desaparece numa realização efémera antes se transfere para um activo durável de que beneficiarão as gerações futuras. Em segundo lugar, o uso do investimento em infra-estruturas não é apenas consumo. É também, e muito, mobilização de recursos potenciais em novas actividades económicas que permitirão manter e acelerar o desenvolvimento e produzir mais riqueza, diminuindo assim o custo relativo da dívida criada na altura do investimento.
3. Sendo banais as observações anteriores, e custando a crer que o PSD foi tomado por uma vertigem demagógica descontrolada, importa tentar identificar as razões de tal discurso. E não é difícil: o que o investimento público dificultará no curto prazo é o objectivo de minimização da carga fiscal característico da melhor doutrina neoliberal. O PSD está a precisar de um discurso de verdade.