quinta-feira, 14 de maio de 2009

Menos de um mexia por ano

1. Segundo o Correio da Manhã da última terça-feira, “Bela Vista custa 1 milhão em subsídio”. O valor estimado corresponderia ao recebido por cerca de 275 famílias beneficiárias do rendimento social de inserção. É uma maneira de fazer contas. Outra seria dizer que a Bela Vista custa 79% de um “mexia” por ano. O valor obtém-se relacionando o total dos subsídios recebidos pelas 275 famílias com a remuneração recebida em 2008 por António Mexia, enquanto presidente executivo da EDP (o gestor português com o salário mais elevado em 2008): 1,26 milhões de euros. Daí o título: “menos de um mexia por ano”.

2. Mexia podia mesmo deixar de ser nome próprio e passar a ser unidade monetária. Um por cento de um “mexia” seria considerado um centavo. Usando esta nova unidade, as 275 famílias da Bela Vista receberam quase 80 centavos e um salário mínimo nacional corresponderia a 0,5% de um “mexia”, ou seja, a meio centavo. Já a remuneração bruta anual de um professor catedrático do último escalão com dedicação exclusiva valeria 7% de um “mexia”, ou sete centavos. Ou apenas quatro centavos se fosse um professor auxiliar do primeiro escalão. Difícil sair dos centavos, com esta nova unidade.

3. Talvez os “mexias” sejam mais úteis para grandes valores. Por exemplo, se o novo aeroporto de Lisboa ficar em cerca de 6 mil milhões de euros (o valor mais alto que encontrei) e tiver um período de vida útil de 35 anos (o período mais curto referido na imprensa), custará 136 mexias/ano. Afinal é quase de borla! Manuela Ferreira Leite tem que rever o significado da palavra mega quando fala em megaprojectos.

4. Chato mesmo é António Mexia pagar a mesma taxa de IRS que paga quem ganha sete centavos em unidades mexias.