Irresponsabilidades
A propósito do anti-espanholismo primário de Manuela Ferreira Leite.
1. No seu último livro (Um Mundo Sem Regras), Amin Maalouf chama a atenção para o perigoso deslize da ideologia para o identitário que caracteriza o mundo político pós-Guerra Fria. Hoje, para surpresa de muitos, assistimos à revitalização de velhas “identidades assassinas”, para usar o título de outro livro do autor, as quais operam com particular eficácia a partir da remissão para concepções herdadas de conflitos do passado.
2. Vale a pena citar Maalouf extensamente, para se perceber o cuidado com que as questões identitárias devem ser tratadas:
“Ultrapassar os preconceitos e os ódios não está inscrito na natureza humana. Aceitar o outro não é nem mais nem menos natural do que rejeitá-lo. Reconciliar, reunir, adoptar, moderar, pacificar são gestos voluntários, gestos de civilização que exigem lucidez e perseverança; gestos que se adquirem, que se ensinam, que se cultivam. Ensinar os homens a viver juntos é uma longa batalha que nunca está completamente ganha. Requer uma reflexão serena, uma pedagogia hábil, uma legislação apropriada e instituições adequadas.”
3. Reflexão serena, pedagogia hábil, lucidez, perseverança… Tudo o que faltou e falta na insistente chamada à campanha eleitoral, por Manuela Ferreira Leite, dos demónios nacionalistas do anti-espanholismo.