Sustentabilidade da retoma
Para garantir a sustentabilidade da anunciada retoma é preciso que algo mude mesmo. Antes de mais, é preciso garantir que o desenvolvimento perverso do sistema financeiro, nas últimas décadas, seja radicalmente invertido.
1. Esse desenvolvimento perverso teve entre as suas componentes mais importantes uma complexificação descontrolada. Como se sabe, a possibilidade de desenvolvimento controlado da complexidade requer simplificação no plano operativo, por especialização, e complexificação dos processos de regulação das partes especializadas. No mundo da finança tudo se passou ao contrário.
2. No plano operativo, complexificaram-se os produtos financeiros e aboliram-se grande parte das fronteiras que especializavam os diferentes actores, organizações e actividades que compunham o sector financeiro da economia. A complexificação dos produtos introduziu opacidade no funcionamento dos mercados financeiros e dificultou o controlo dos seus resultados. A indiferenciação de actores, organizações e actividades incrementou exponencialmente o risco sistémico, tanto em termos extensivos como intensivos, e dificultou o controlo do seu funcionamento.
3. Ora, quando se exigia mais regulação, por serem maiores as dificuldades de monitorização dos mercados, os principais decisores políticos optaram por limitar, simplificar e dispensar boa parte da regulação financeira construída no pós-guerra. Simplificação da regulação combinada com complexificação da operação dos mercados financeiros teve o resultado que se conhece.
4. Hoje, a sustentabilidade das respostas à crise exige um caminho inverso assente em dois princípios fundamentais: re-especialização das actividades financeiras e desenvolvimento dos instrumentos e normativos da sua regulação. Se nada for feito nestes dois domínios, não apenas num deles, até já crise.