O “arrastão” moral
Hoje, Lisboa assistiu a um “arrastão” moral da direita nacionalista em pleno centro da cidade. Gritando por Portugal, os manifestantes exigiam o repatriamento dos imigrantes e dos seus filhos, que responsabilizavam pelo aumento da criminalidade.
Um desses manifestantes, entrevistado pelas televisões, proclamava o seu orgulho em ser branco, argumentando que essa proclamação nada tinha de racista. Mas se construir a sua identidade com base na pertença a um colectivo definido pela cor da pele não é racista, então não sei já o que é o racismo. No entanto, o jovem nacionalista com ar de rotweiller insistia com um argumento de peso: “se os negros podem ter orgulho na sua cultura negra, porque não podem os brancos fazer o mesmo?”
Horas antes, numa visita a um bairro que tem sido transformado em destino do agora chamado “turismo étnico” (tipo “venha vê-los ao vivo no seu habitat natural”!), o Presidente da República ajudava, sem disso se aperceber e certamente pretendendo o contrário, a validar aquele tipo de argumento. Exigindo tolerância e defendendo o direito à convivência cultural, Sampaio cometia todos os erros do costume: exagerava a dimensão cultural do problema da integração, que teria a ver com a origem dos imigrantes, os quais, por acaso, têm uma cor de pele diferente, e reclamava respeito por essa cultura. No final, o que ficava era uma espécie de direito ao orgulho na cultura negra na Cova da Moura.
Pois é no que dá a ligeireza multicultural no tratamento das questões da imigração.