sexta-feira, 17 de junho de 2005

Os direitos dos racistas [versão revista]

A Frente Nacional, na companhia de outras organizações semelhantes, convocou para amanhã, sábado, uma manifestação no Martim Moniz, “contra o aumento da criminalidade”, em resposta ao “arrastão” de Carcavelos. Os motivos são abertamente racistas. Dizem os seus promotores, no essencial, que há uma clara relação entre imigração e criminalidade, que o “arrastão” de Carcavelos foi um “crime hediondo” e que só limitando “o acesso à nacionalidade Portuguesa” e procedendo à “repatriação imediata dos imigrantes e seus descendentes” se pode combater a criminalidade.
Quem tanto se orgulha do seu portuguesismo, faria bem em aprender a melhor escrever em português. Mais rigor de raciocínio também lhes daria jeito. Exemplo: se o “arrastão” de Carcavelos foi um “crime hediondo”, então os homicídios na casa de alterne de Amarante, de há uns anos, estarão no mesmo plano de um genocídio; como foram cometidos por portugueses, brancos, pode deduzir-se que há uma relação clara entre nacionalidade portuguesa e criminalidade; em conclusão, os portugueses deviam ser expulsos para Marte!
Seria ridículo se não fosse perigoso. Mas é, porque nacionalismo e racismo mobilizam em termos irracionais, induzindo com facilidade emoções que alimentam comportamentos violentos.
Significa isto que deveria ter sido proibida a manifestação racista convocada para sábado, como foi exigido por algumas organizações anti-racistas? Não! Todos devem ter o direito a manifestar-se, mesmo que seja para promoverem ideais tão repulsivos como o são quer o racismo quer o ultra nacionalismo da FN.
Ao contrário da FN somos gente decente: reconhecemos o direito à liberdade e à palavra a todos, mesmo aos que promovem aquilo que mais nos repugna. Deve ser assim a democracia. Fez por isso bem o Governo Civil de Lisboa em autorizar a manifestação. Esperemos que tenha também assegurado a necessária segurança que a provocação da FN requer. Pois este é o outro lado da exigência democrática.

Nota: as citações deste texto foram retiradas da página da FN. Desta vez, porém, não há aqui um link para essa página. Reconhecer-lhes direitos é uma coisa, colaborar na difusão das suas ideias é outra. Decentes mas não parvos.