quinta-feira, 14 de julho de 2005

Ignóbeis do Canhoto [2]

O de hoje é para Luís Valadares Tavares (L.V.T.).
O estudo sobre o insucesso escolar dirigido por L.V.T., em 2002, deveria ser utilizado em todos os cursos de ciências sociais e de estatística, como exemplo pedagógico de erros de palmatória nos planos técnico e interpretativo. Procurando minimizar a relação entre meio social e sucesso escolar, L.V.T. consegue a proeza de usar a mesma variável, ainda que com indicadores diferentes, tanto na construção da variável independente (meio social) como na da variável dependente (sucesso escolar): no primeiro caso, incluindo no índice composto a percentagem de jovens em idade escolar inscritos no secundário; no segundo, a nota destes nos exames nacionais.
No plano interpretativo o nível sobe significativamente. L.V.T. dispõe de dados por escola sobre as notas nos exames nacionais do secundário e, analisando-os, descobre que a média por escola, nos concelhos da área metropolitana de Lisboa, varia muito. Logo, conclui, como são escolas do mesmo meio social, a relação entre as duas variáveis estudadas é fraca. Bingo! Triunfo absoluto sobre sociólogos e quejandos! Pena apenas que L.V.T. não tenha percebido que o meio social, nos concelhos da área metropolitana de Lisboa, só é homogéneo porque ele não dispõe de dados sociais desagregados abaixo do concelho. Também não precisava: qualquer um sabe que em Sintra há Sintra e há Cacém; ou que em Lisboa há Alvalade e há São Paulo.
Como também sabem, todos quanto em Portugal trabalham com seriedade sobre o condicionamento social do sucesso escolar, que a descoberta de excepções sobre aquele condicionamento é, em geral, uma boa notícia. Pois pode significar que há escolas que descobriram modos eficazes de o contrariar, modos que é urgente compreender e generalizar. É para isso mesmo que se faz, ou se deve fazer, política educativa. E é por isso mesmo que a escola conta e que se espera que venha a contar cada vez mais.
Esta semana, L.V.T. apresentou, com pompa e circunstância, novo trabalho, agora sobre o estudo da matemática em Portugal. Por mais surpreendente que tal possa parecer, o nível desceu ainda mais. Merece, por isso, que lhe dediquemos um texto específico.
Entretanto, e enquanto espera: sabe quanto é 5,6% de 18?