segunda-feira, 18 de julho de 2005

Livros [6]








O Pensamento Conservador. Perversidade, Futilidade e Risco,
por Albert O. Hirschman,
Algés, Difel, 1997 (ed. original: 1991), 197+viii pp.
Tradução de Rui Miguel Branco

Albert Otto Hirschman parte da célebre conferência de
T.H. Marshall sobre a formação da cidadania contemporânea para estudar a retórica da reacção (expressão agreste aos ouvidos portugueses, mas que corresponderia à tradução à letra do título do livro), tendo-se defrontado com a fragilidade dos argumentos políticos conservadores. Daí partiu para uma cartografia das retóricas da intransigência . Este livro – que aborda as batalhas pela igualdade social, as liberdades individuais, o sufrágio universal, a democracia e o Estado-providência – é um exercício de inteligência com bom-humor e bom senso, que incomodará gregos e troianos (também há um capítulo para a retórica progressista) que se dêem ao trabalho de o ler.

Índice «Nota de apresentação (por Diogo Ramada Curto). Prefácio. Duzentos anos de retórica reaccionária. A tese da perversidade. A tese da futilidade. A tese do risco. As três teses comparadas e combinadas. Da retórica reaccionária à retórica progressista. Para além da intransigência.»

Citação «Ao examinar os principais modos de criticar, atacar e ridicularizar os três impulsos “progressistas” sucessivos de que fala Marshall, acabei por encontrar uma nova tríade: isto é, três teses reactivas-reaccionárias principais que denominei tese da perversidade ou tese do efeito perverso; tese da futilidade; e tese do risco. De acordo com a tese da perversidade, qualquer acção deliberada para melhorar alguma característica essencial da ordem política, social ou económica serve apenas para agravar o exacto aspecto que se deseja atenuar. A tese da futilidade sustenta que as tentativas de transformação social são inúteis, que nunca conseguirão “fazer a diferença”. A tese do risco defende que o custo da mudança ou reforma proposta é demasiado alto para ser pago – eventuais melhorias não compensam o risco de fazer perigar preciosas conquistas anteriores.
«Claro que estes argumentos não são propriedade exclusiva dos “reaccionários”. Eles podem ser invocados por qualquer grupo que se oponha a ou critique novas propostas de carácter político ou iniciativas já adoptadas» [Hirschman, 1997: 17]

Albert Hirschman nasceu em Berlim em 1915. Doutorou-se na Universidade de Trieste em 1938, depois de ter passado pela Sorbonne e pela LSE, mas fez a sua carreira, desde 1941, nos EUA, a cujo exército pertenceu durante a II Guerra Mundial. Como economista do desenvolvimento, trabalhou no Federal Reserve Board e na América Latina. É Professor Emeritus do Institute for Advanced Study de Princeton, depois de ter passado por Berkeley, Yale, Columbia e Harvard. A sua influência estende-se por um vasto campo das ciências sociais que vai da ciência política à psicologia organizacional.