Choca mas não surpreende
Quando se trata de comparar Portugal com outros países a propósito de educação, o país sai mal na fotografia.
Agora foi o novo relatório da OCDE que hoje vem reflectido nos jornais (e faz manchete no Público). Os dados chocam mas não surpreendem.
Há quatro décadas atrás, quando se alargou a escolaridade obrigatória para seis anos, os elitistas retrógrados opuseram-se-lhe argumentando que iria estragar a qualidade do ensino e destruir as elites. O argumento foi-se sofisticando, mas permanece presente nos neoelitistas que bramam permanentemente contra a "degradação" do ensino submetido à pressão de responder a cada vez mais alunos, de contextos cada vez mais diversificados.
A escola defende-se expulsando precocemente os alunos mais difíceis. Quando consegue, as famílias permitem e o meio social o estimula (seja pela atracção do trabalho precoce, seja pelo fascínio da socialização no grupo de pares também excluídos), atira-os fora. Assim chegamos ao estranho diferencial de anos de frequência escolar entre Portugal e a OCDE. Mas quando não consegue, expulsa-os lá dentro, condena-os ao insucesso, contemporiza com o facto de que não aprendem e não sabem desde que lhes possa pôr o carimbo de "chumbado", para não utilizar os eufemismos pedagogistas. Assim se chegam aos dados sobre as aprendizagens. Sabia que, quando se compara o aluno médio a distância entre Portugal e a OCDE na capacidade de resolver problemas de matemática é muito menor do que quando se inclui os alunos todos? Ou seja, que nós ensinamos muito pior os maus alunos que os outros países da OCDE?
Os jornais falam do abandono escolar dos jovens. É preciso discutir o abandono dos jovens pela escola.
A boa escola ensina bem os seus maus alunos. Aos mais esquecidos, recordo o velhinho relatório Coleman e uma das suas mais célebres conclusões. Os alunos com mais dificuldades ganham mais pela coexistência com os que as não têm do que aquilo que aqueles perdem.