quinta-feira, 15 de setembro de 2005

IDH

Estamos na “época” dos relatórios comparativos internacionais. Desde ontem as atenções estão centradas no Education at a Glance. Sobre o que os dados revelam, veja-se o texto, abaixo, de Paulo Pedroso; sobre o resultado acumulado dos processos de fabricação de exclusão escolar falarei noutro dia. Hoje, trato das relações entre os dados dos dois últimos relatórios de organizações internacionais divulgados pela imprensa: o já referido Education at a Glance, da OCDE, e o Human Development Report 2005, da ONU.
Antes de iniciar a avaliação crítica dos dados referentes a Portugal no que se refere aos resultados do índice de desenvolvimento humano (IDH), importa precisar que, embora tenhamos razões para estar preocupados, não podemos esquecer que, com o 27.º lugar no IDH, integramos o grupo de 57 países, entre 177, que são considerados pelas Nações Unidas como de “elevado desenvolvimento humano”. Entre a 58.ª posição e a 145.ª estão os países com “médio desenvolvimento humano”, e entre a 146.ª e a 177.ª posições os países de “baixo desenvolvimento humano”. Simplificando um pouco, no primeiro grupo predominam os países da OCDE, no segundo os latino-americanos e asiáticos e no terceiro, o dos mais pobres, os países africanos a sul do Sara. Relativizemos pois a desgraça própria, não para ficarmos satisfeitos com a desgraça alheia mas para não alimentarmos um egoísmo amoral perante a (má) sorte de outros.
Convém também ser rigoroso e precisar que não é correcto dizer-se que Portugal piorou a sua posição em termos de desenvolvimento humano: em relação ao último relatório, Portugal baixou uma posição relativa, mas o valor absoluto do índice aumentou. Ou seja, desenvolvemo-nos mas mais devagar do que outros países, os quais têm melhorado a sua posição mais depressa. Esta ressalva é importante porque houve 18 países que viram a sua situação piorar em termos não só relativos mas também absolutos. Destes, 6 são países que integravam a ex-União Soviética (incluindo a actual Federação Russa), podendo ter-se a esperança que a sua regressão seja temporária, associada à turbulência de uma mudança estrutural ainda incompleta. Os restantes 12 situam-se, todos, na África a sul do Sara, pertencendo 9 deles ao grupo dos menos desenvolvidos da lista da ONU: ou seja, não só são dos mais pobres como estão em regressão.
Portugal não regrediu mas desenvolveu-se pouco e tem os novos países da UE à perna. O IDH é um índice composto a partir de três indicadores, um dos quais sobre o desenvolvimento educacional (os outros dois são a esperança média de vida e o PIB per capita). E aqui reside a articulação entre a informação dos dois relatórios: com bases mais sólidas no ensino básico e secundário e com um ritmo de desenvolvimento educacional mais rápido do que o português no superior, os países do Leste passarão rapidamente para a frente, mesmo que continuemos a progredir em termos absolutos aos ritmos actuais.

Human Development Report 2005
Human development indicators 2005