Depois de lido, com preocupação, o barómetro do DN de Setembro
O barómetro do DN está a ser comentado, como habitualmente, no sobe-e-desce que deleita os fieis devotos da religião do sondagismo. Para estes, os grandes resultados do mês são a ultrapassagem do PS pelo PSD e a queda de popularidade do Primeiro-Ministro.
Mas estes são os dados mais banais da sondagem, atendendo às circunstâncias que o país vive e à proximidade ao início da produção de efeitos de algumas das políticas que mais contestação sofrem. Nesse quadro, é normal e saudável que os portugueses se virem momentaneamente para a oposição, fazendo funcionar uma ameaça de recurso à alternância democrática. Caberá ao governo convencer os eleitores, no momento certo, que tal ameaça se não justifica e que as medidas tomadas têm uma racionalidade que se materializa em efeitos positivos.
Mas encontrei no barómetro, outros sinais, a partir da popularidade dos políticos:
a) os políticos populares são:
— os tele-evangelistas Marcelo Rebelo de Sousa e António Vitorino, que nos entram em casa, normalmente, não no exercício de qualquer reponsabilidade pública, mas na qualidade de "analistas";
— Jorge Sampaio, que é, por definição, no cargo que ocupa, poupado ao confronto de opiniões sobre as suas decisões;
— Cavaco Silva, cujo "tabu" presidencial não provoca qualquer desgaste, enquanto o anúncio de Mário Soares de que abandona o conforto da Fundação para se submeter, nobremente, ao combate político é muitissimo mal recebido, com uma degradação do seu saldo de popularidade em 40 % (uma queda superior em 14 pontos à do segundo maior perdedor do Verão, Manuel Maria Carrilho).
Hipótese explicativa decepcionada: o político popular português tende a ser o que as pessoas vêm como não-político, que não faz ondas, seja porque pela natureza das funções não é suposto fazê-las, porque faz de conta que as não quer fazer ou porque não se deixa comprometer com responsabilidades no espaço político em que se filia.
b) os políticos que estão a subir na popularidade são:
— Alberto João Jardim (+16%); Maria de Lurdes Rodrigues (+12%); Pedro Santana Lopes (+6%); Ribeiro e Castro (+3%); Mariano Gago (+1%); Manuel Alegre (+1%); Carlos Carvalhas (+1%).
Hipótese explicativa com mixed feelings: o populismo está a recuperar espaço (o lado mau da coisa); o início do ano lectivo correu bem e os ministros da área são recompensados por isso (o lado bom); Manuel Alegre não está ligado ao lançamento do ano lectivo e está a subir (oxalá a interpretação correcta não seja a que parece).