Exclusão escolar
Voltemos, hoje, ao último Education at a Glance, da OCDE e, em particular, ao terrível gráfico da página 300.
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Terrível porque aí se vê Portugal num lugar cimeiro, e único, de exclusão escolar, entre todos os países da OCDE analisados. Único, repete-se, porque ocupando solitariamente uma posição destacada no quadrante superior esquerdo do gráfico. As características dessa posição explicam-se em poucas palavras: em primeiro lugar, Portugal é o país com maior percentagem de jovens entre os 20-24 anos que não frequentam a escola e têm baixas qualificações escolares, inferiores ao secundário completo (cerca de 50%!); em segundo lugar, Portugal está ainda entre os países com mais baixa percentagem de jovens entre os 20-24 anos que frequentam um qualquer grau de ensino. Ou seja, estamos mal e não damos sinais de recuperação. Ao contrário da Espanha, Islândia ou Itália que, estando também mal (mas menos), iniciaram já um percurso claro de recuperação.
Por isso falamos em exclusão escolar. Porque atirámos, no passado recente, centenas de milhares de jovens para fora da escola com baixos níveis de qualificação; e porque, hoje, fazemos ainda pouco para alterar rapidamente esta situação.
Ou invertemos rapidamente estes níveis de exclusão escolar ou caminharemos rapidamente para a catástrofe social. Para isso, porém, é necessário massificar o sucesso educativo em lugar de elitizar a selecção escolar.
ADENDA
Meu caro Rui Pena Pires, louvo a sua abordagem e o destaque que deu a estes resultados. Permita-me que o alerte para o seguinte: tratando-se de um relatório publicado em 2005 a maior parte dos dados referem-se a 2002, quanto muito a 2003. Ora no seu texto omite o período a que se reportam os dados. A falha não seria grave se, por acaso não tivesse escrito: “Porque atirámos, no passado recente, centenas de milhares de jovens para fora da escola com baixos níveis de qualificação; e porque, hoje, fazemos ainda pouco para alterar rapidamente esta situação”. Acha que o abandono desqualificado só se verificou no passado recente? Quanto é que é “passado” e quanto é “recente”? […] Um pouco mais de rigor não faz mal a ninguém.
É verdade que os dados do último Education at a Glance se referem a 2002/03 (tal como, aliás, os dados do IDH, também muito comentados nos últimos dias, aqui e nos média em geral). Mas quando falei em “anos recentes” não tinha em mente o tempo curto do ciclo político, pelo que a precisão, sendo sempre útil, não altera o argumento. E este é simples de enunciar: a expansão do secundário desacelerou demasiado cedo, desde os anos 90, pela acumulação de factores de insucesso escolar. E se, literalmente, podemos falar de “abandono desaqualificado” desde muito antes, é preferível usar a expressão agora, quando se verifica uma estagnação nos ritmos de crescimento apesar das expectativas em contrário, do que quando, por exemplo há meio século, as expectativas e as procuras sociais de qualificação eram, em Portugal, bem mais baixas (infelizmente).