Regresso à política, precisa-se (corrigido)
As derivas moralista e pragmática empobrecem a nossa vida política e impedem a clarificação e realização das necessárias escolhas sociais. O regresso à política (e à ideologia) é pois indispensável.
Infelizmente, não será nestas eleições autárquicas que tal regresso se iniciará. Para além da transformação dos concelhos em mais de 300 círculos uninominais, com a sistemática redução das listas eleitorais ao nome e rosto dos candidatos a presidente de câmara, abundam os cartazes com palavras de ordem esvaziadas de propostas políticas.
O cartaz que vai mais longe nesta lógica perversa de despolitização é, provavelmente, o da CDU, acima reproduzido. A sua mensagem parece inocente: “trabalho, honestidade, competência”. Parece inocente, mas não é. De facto, a mensagem do cartaz da CDU é uma variante do popular, e populista, “vai trabalhar malandro”.
As disputas eleitorais são processos concorrenciais pelo voto dos eleitores. As mensagens usadas na concorrência entre partidos realçam o que é distintivo de cada um. Neste contexto, o sentido da utilização da trilogia “trabalho, honestidade, competência” é óbvio: ao contrário dos da CDU, os “políticos” são todos uns mandriões, desonestos e incompetentes. Esta autovalorização moral (olá Brasil!) é inaceitável. Contribuindo para minar a credibilidade das instituições políticas, aquele cartaz constitui, na realidade, um ataque à democracia que não deve ser tolerado.
Pois assim se abrem alas a todos os populismos.