As virtudes da média
Quarta-feira passada (12/10), no telejornal da RTP2, falava-se sobre o peso da receita fiscal no PIB. O especialista convidado, Diogo Leite de Campos, apresenta então um dos mais extraordinários argumentos sobre o assunto em questão. Resumindo:
— em Portugal, a carga fiscal está próxima da média da OCDE;
— em Portugal, a evasão fiscal não é, em média, maior do que na OCDE;
— exagera-se hoje, em Portugal, no combate à evasão fiscal;
— a continuar por este caminho, irá aumentar a receita fiscal;
— nessa altura, a carga fiscal passará a ser excessiva.
Extraordinário argumento, de facto, pois nessa altura a carga fiscal só será excessiva para os que hoje nada (ou pouco) pagam. Para os que pagam, será a mesma! Em resumo, a equidade fiscal é irrelevante desde que a carga fiscal média não suba; e a evasão fiscal não precisa de correcção, desde que a receita fiscal global esteja em patamar aceitável. É a virtude da média na história, com barbas, do almoço de dois homens, um que nada come, outro que come uma galinha inteira: a média é aceitável, pois meia galinha por pessoa é uma boa refeição em qualquer sítio do mundo.
Foi em directo na televisão, pelo que tem atenuante. Por escrito, era argumento suficiente para um Ignóbil do Canhoto.