(Des)União Europeia: o dia em que iam começar as negociações para a adesão da Turquia
A UE contiua a dar o melhor de si para fazer com que não haja dúvidas que corre o risco de paralisia total. O espectáculo dos encontros de última hora que terminam bloqueados e se desbloqueiam fora-de-horas repetiu-se hoje, a propósito do início das negociações com vista à adesão da Turquia.
É certo que a digestão da adesão turca será a mais difícil de todas as que os sucessivos alargamentos da UE permitiram e que a opinião pública europeia não está ganha para a causa. É igualmente certo que a Turquia não reune neste momento os requisitos necessários, desde logo do ponto de vista da solidez das suas instituições democráticas e do respeito pelos direitos humanos. Mas os argumentos “estruturais” explícitos e implícitos dos que são contra a adesão não são aceitáveis.
Por um lado, sustentam, trata-se de um país islâmico. Tal argumento nega três princípios fundamentais: os estados europeus são laicos, a Europa é historicamente marcada pela confluência de religiões, Europa e Islão são compatíveis.
Por outro, repetem, falamos de um país mais asiático que europeu. Este outro argumento olha para a política a partir do total determinismo da geografia natural. Convém não esquecer que, desde o seu nascimento, a UE procura reunir em parceria pacífica as potências que se confrontaram historicamente na Europa.
Isto não equivale a ocultar ou desvalorizar dificuldades evidentes. Não estamos habituados a pensar que o Iraque possa fazer fronteira com a UE, é um facto. E não podemos tolerar certos procedimentos da Turquia a um estado-membro. Eles têm que mudar e nós também. Mas essa é a história de todos os alargamentos, pelo menos até ao fracasso do recente Tratado Constitucional. E ninguém disse que as negociações devem ser ligeiras ou voluntaristas.