segunda-feira, 24 de outubro de 2005

Estamos todos preocupados (3)






Os comentários ao post "Estamos todos preocupados" merecem que regressemos ao assunto.
1. O candidato Cavaco Silva referiu, no seu discurso de apresentação, que Portugal "voltou a ser ultrapassado pela Grécia", e que "já fomos mesmo ultrapassados pela Eslovénia."
2. Mostrei, com base nos dados do EUROSTAT, que a evolução do PIB em paridades do poder de compra mostra que Portugal interrompeu um período de convergência com a UE após a aplicação da terapia fiscal de Ferreira Leite que Cavaco aplaudiu. Mais, que ao fazê-lo, era contrariada a tendência da última década.
3. Foi objectado pelo Miguel que a série não era suficientemente longa e que a tendência não era evidente. Quanto à segunda observação, convido os leitores a que façam a sua própria interpretação do gráfico do post anterior. Quanto à primeira, sugiro aqui a comparação do que aconteceu nos últimos 20 anos, isto é, desde o período de grande ajustamento financeiro (1983-1985)corajosamente conduzido por Mário Soares, com custos políticos violentos para o PS e efeitos históricos positivos para o país.
4. Como o EUROSTAT não tem disponível uma série tão longa, recorro aos dados insuspeitos do FMI.
5. A comparação de Portugal com a Eslovénia não pode deixar dúvidas sobre a inteção manipulatória (talvez a expressão devesse ser mais violenta ainda) da afirmação de que "já" fomos ultrapassados pela Eslovénia. De facto, este país já tinha atingido um nível económico superior ao nosso quando ainda estava amarrado à Ex-Jugoslávia e interrompeu apenas, durante o tempo dos efeitos das guerras dos balcãs, essa tendência. Ainda restam dúvidas?
6. A comparação de Portugal com a Grécia demonstra que: (a) entre 1985 e 1992 recuperámos atraso, crescendo mais depressa; (b) até 1995, crescemos praticamente ao mesmo ritmo; (c) a partir de 1996 ganhámos uma vantagem que perdemos em 2002; (d) se hoje estamos atrás da Grécia, isso ocorre porque parámos de crescer a partir de 2002; (e) se as projecções do FMI para 2005 se concretizassem, começávamos a recuperar.
7. Reafirmo que o candidato Cavaco Silva manipula os dados económicos de um modo que não agradaria a um economista rigoroso e que as suas receitas, interpretadas por Ferreira Leite, não ajudam nada, antes pelo contrário, a recuperar a convergência e, para usar as comparações de Cavaco, a ultrapassar outra vez a Grécia ou a Eslovénia.