sábado, 22 de outubro de 2005

Estamos todos preocupados





O sentido político que Cavaco Silva quis dar ao seu discurso de candidatura presidencial foi bem retratado pelo Rui Pena Pires. Mas vale a pena entrar nos detalhes. O candidato indicou a sua preocupação com o facto de Portugal ter sido ultrapassado, em termos económicos pela Grécia e pela Eslovénia. Usou este facto para ilustrar o tom de dirigismo presidencial que quer dar à sua candidatura. Tentou, à boleia dos dados económicos erigir-se num elemento redentor perante o declínio intemporal da pátria.
Mas o cavaco Silva economista sabe queo candidato estava a fazer um exercício de manipulação dos dados. Senão vejamos:
1. Portugal passou grande parte da última década a convergir com a UE num movimento que se acelerou muito com a saída do Primeiro-Ministro Cavaco Silva, a derrota do PSD e a vitória de António Guterres e do PS.
2. Portugal só foi ultrapassado economicamente pela Grécia (e agora pela Eslovénia) após a aplicação das terapias de Ferreira Leite que Cavaco Silva aplaudiu e a falta de alternativas protagonizada por Campos e Cunha (que Cavaco Silva voltou a aplaudir).
Ou seja, se há alguma relação entre receitas políticas de Cavaco e declínio económico verificável empiricamente de Portugal ela é a de que quanto mais perto o país estiver do que Cavaco propôs, mais se afasta da convergência com a UE. Dito de forma mais clara: da terapia Cavaco/Ferreira Leite Portugal deve esperar a repetição do que aconteceu nos últimos dois anos e o dirigismo de cavaco Silva, nesta matéria, traria dificuldades acrescidas à missão de José Sócrates e do seu Ministro das Finanças, de recuperar a economia em clima de coesão social.