terça-feira, 11 de outubro de 2005

Migrações internacionais

A consulta do World Migration 2005, recentemente publicado pela Organização Internacional das Migrações (OIM), ajuda-nos a perceber a real dimensão do fenómeno das migrações internacionais.
Segundo a OIM, haverá no mundo cerca 175 milhões de migrantes internacionais. Parece muita gente, e é-o em termos absolutos. Porém, importa relativizar, pois todos estes milhões de migrantes representam apenas 3% da população mundial. Ou seja, e primeira surpresa considerando o discurso dominante sobre “o novo mundo móvel” em que viveríamos, a população mundial é hoje maioritariamente composta por “sedentários”. É óbvio, no entanto, que o peso da população migrante varia muito de país para país, ou de continente para continente: entre 19% na Oceânia (leia-se Austrália e Nova Zelândia) e 1% na Ásia e na América Latina. Pelo meio ficam a América do Norte, com 13%, e a Europa, com 6%.


Gráfico: percentagem de migrantes internacionais na população total, 2000

No gráfico acima, aparece também em destaque a ex-URSS, mas trata-se de um problema de medida. O indicador usado para medir as migrações internacionais é a nacionalidade: assim, em rigor, quando se diz que na ex-URSS há 10% de imigrantes, o que de facto há é 10% de estrangeiros. Ora, com a desagregação da URSS, muitos residentes em vários dos novos estados entretanto surgidos viram-se estrangeiros de um ano para o outro sem se terem deslocado um quilómetro que fosse.
Dada a real dimensão do fenómeno migratório, surpreende a sua transformação política e mediática num grave “problema” social. Parte da explicação poderá estar nos dados do quadro abaixo. De facto, a Europa é o único continente em que, na década de 90, acelerou o crescimento das migrações por comparação com o ritmo das duas décadas anteriores. Ou seja, o “medo” será sobretudo o medo do futuro, mais do que o resultado de uma pressão do presente.


Quadro: taxas médias de crescimento anual da imigração

De qualquer forma, não só o crescimento das migrações continua a ser maior na América do Norte do que na Europa, embora em lenta desaceleração, como a percentagem de imigrantes na Europa é ainda menos de metade da que existe nos EUA e Canadá. É pois importante reduzir às devidas proporções a aceleração do crescimento das migrações para a Europa, atrás referido. Não ignorando que o controlo das migrações internacionais é, hoje, um problema para os estados europeus, apenas semearemos ventos xenófobos se ignorarmos os dados e ampliarmos o fenómeno em causa.
E quem semeia ventos…