quinta-feira, 20 de outubro de 2005

Sobre a agenda presidencial do cavaquismo

Os cavaquistas estão divididos, pelo menos, nas intervenções públicas. De um lado, surgem cordeiros recordando que Cavaco Silva ficou traumatizado com a "força de bloqueio" do anterior mandato presidencial de Mário Soares (veja-se José Pacheco Pereira ou Vasco Graça Moura). Do outro, os lobos que se multiplicam em apelos ao reforço dos poderes do PR e querem a submissão do governo à tutela presidencial (como Rui Machete, Morais Sarmento ou Manuel Villaverde Cabral).
Compreende-se que a estratégia vise abrir espaço para uma campanha eleitoral de Cavaco no ponto médio dos seus apoiantes, que lhe permita ganhar margem de manobra para tais derivas presidencialistas sem assustar os eleitores moderados.
O cavaquismo pôs inesperadamente na agenda o equilíbrio de poderes no nosso sistema constitucional. Mário Soares é o moderador e árbitro, o homem que moldou o modelo de PR em que este aspira a um papel unificador da sociedade portuguesa. Cavaco Silva é a esperança dos que pretendem um golpe institucional, dos que querem que o PR seja um chefe de facção, dos que desejam criar um choque de maiorias ou a submissão da política a um chefe e dos que querem transformar as presidenciais na revanche da estrondosa derrota da direita nas legislativas.
Mais do que eu pensava à partida, eleger Mário Soares é defender a ordem constitucional do assalto dos que não se sentem bem com ela e tentam forçar os seus limites, caso não consigam subvertê-la.