quarta-feira, 23 de novembro de 2005

Responsabilidades

Vi, este último fim-de-semana, O Fiel Jardineiro, filme de Fernando Meirelles baseado no livro com o mesmo título de John Le Carré. Recomenda-se.
O cenário de uma África mergulhada na miséria e percorrida por histórias de total desumanidade deixa o espectador decente incomodado, quando não mesmo agoniado. O argumento lembra-nos ainda que os poderes locais responsáveis directos por esse cenário sobrevivem com complacências, cumplicidades e apoios externos, económicos ou políticos, acantonados nos países do Norte rico.
Parte dessas complacências ou cumplicidades poderão ter um fundo racista, ainda que inconsciente. Só assim se percebe que quem nunca apertaria a mão a um Pinochet seja capaz de a apertar a um presidente africano não menos recomendável, “apenas” porque este está em funções. É como se reduzissemos os critérios de exigência moral com receio de sermos acusados de racismo, quando é essa mesma redução que é racista.
A não ser que as perspectivas de negócios justifiquem que se esqueça tudo o resto. E mergulhamos então no filme de Le Carré e Fernando Meirelles. Com todas as responsabilidades do mundo, sem podermos alegar que não sabíamos…