Vistas as sondagens sobre as presidenciais
Vistas as sondagens sobre as eleições presidenciais já divulgadas, o seu inacreditável tratamento editorial e as oportunas e esclarecedoras notas do Pedro Magalhães no Margens de Erro (clique aqui ao lado, porque é nossa visita frequente), retiro algumas conclusões do ponto em que estamos:
a) Cavaco Silva partiu como vencedor antecipado e como tal continua por enquanto. Os outros candidatos ainda nada fizeram que consiga inverter a situação. Se é verdade que Cavaco parece estar a perder ligeiramente terreno, mesmo quando o PSD o está a ganhar, não é menos verdade que a vantagem de Cavaco se situa na maneira como continua a tocar transversalmente o eleitorado;
b) Manuel Alegre conseguiu, até agora, consolidar intenções de voto significativas à esquerda. Vicente Jorge Silva, hoje, no DN, diz que é por causa do seu romantismo positivo. Talvez. Há quem ache que é porque consegue atrair os eleitores que apoiam o PS mas se querem distanciar do PS. Eu continuo convencido que Alegre será a principal vítima da campanha eleitoral, como Pintasilgo o foi em 1986 ou que, caso contrário, Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã terão más notícias na noite eleitoral.
c) A candidatura de Mário Soares não foi bem recebida e continua em dificuldades. Sente-se que falta dar um argumento a quem quer voltar a votar Soares e não parece que a promessa de ficar só um mandato seja cativadora por aí além, pelo que não se percebe que se insista nela. Continuo convencido que o argumento mais forte da campanha, até agora, foi a demonstração da deriva presidencialista em Cavaco. Não é por acaso que é o único ponto em que este teve que silenciar discursos dos seus apoiantes e reposicionar-se desde o início da campanha.
d) Os eleitores já perceberam que Louçã e Jerónimo não são verdadeiros candidatos, apenas instrumentos dos estados-maiores partidários a tentar manter a fidelidade dos eleitorados dos seus partidos para eleições posteriores.
e) As próximas eleições presidenciais vão ser decididas pelos eleitores que deram a maioria absoluta ao PS no início deste ano. Por agora, gostemos ou não, estão a entregar-se nas mãos de Cavaco, por força da sua total dispersão (Soares, Alegre, Cavaco, abstenção, todos se alimentam deste eleitorado). Soares tem razão quando diz que a sua batalha da primeira volta consiste em ganhar os eleitores do PS. Mas, tendo como adversários Cavaco, Alegre e o descontentamento, parece demasiado sózinho no terreno. Ninguém pode ignorar que a entourage de Soares está muito distante do PS que António Guterres, Jorge Coelho, António José Seguro, António Costa e José Sócrates protagonizaram sucessivamente há mais de uma década.
Se tudo continuar como até aqui, com os candidatos de esquerda instalados na ideia de que têmn apenas que cumprir calendário até à primeira volta e se reunem para derrotar Cavaco na segunda, como fizeram contra Freitas emn 1986, é provável que não haja essa mirífica segunda volta. É o que, cruamente, as sondagens dizem, gostemos ou não.
Nunca me entusiasmou a dispersão de candidatos à esquerda. Mas agora é tarde para discutir esse assunto. Em termos práticos, se quisermos ganhar as presidenciais, só resta um caminho: envolver o PS, a fundo, do topo à base, na campanha de Soares e explicar, detalhadamente, porque é que Cavaco continua a ser um líder de facção, não se desdizendo, antes tentando ganhar espaço de manobra eleitoral pelo silêncio.
Sem o PS, Soares, provavelmente, afunda-se, como o próprio intuiu. Mas, com Cavaco, ninguém se surpreenda com o que aconteça a seguir ao governo.